Perfil clínico e epidemiológico dos casos de near miss materno em um hospital universitário do Nordeste brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.5327/JBG-2965-3711-202313390Palavras-chave:
near miss, assistência médica, saúde maternoinfantil, unidades de terapia intensivaResumo
Introdução: Os casos definidos como near miss materno (NMM) são aqueles nos quais uma gestante ou puérpera quase vai a óbito. Podem ser considerados como indicadores mais úteis e abrangentes do que os índices de mortalidade materna no que diz respeito à assistência obstétrica. A OMS estabeleceu 25 critérios padronizados para categorizar os casos considerados como near miss, divididos em três blocos: clínicos, laboratoriais e de manejo, e estão relacionados às diversas disfunções orgânicas. Objetivo: Descrever o perfil clínico e epidemiológico das pacientes obstétricas internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital universitário brasileiro, enquadradas como near miss materno (NMM), de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS). Métodos: O desenho do estudo foi do tipo transversal, retrospectivo, descritivo. Foram observados 41 prontuários de pacientes em período gestacional ou em até 42 dias pós-parto, de maio de 2021 a junho de 2022. Foram verificadas informações sobre os aspectos sociodemográficos e os critérios de identificação de NMM. Os dados foram analisados por meio do programa Microsoft Excel, versão 2019. Foi realizada uma análise quantitativa dos dados obtidos por meio do programa Statistical Product and Service Solutions (SPSS) versão 25,0). Resultados: Do total de pacientes, 34 apresentavam pelo menos um critério para NMM. As pacientes diagnosticadas com NMM foram 31, correspondendo a 75,6%, enquanto em três delas o quadro evoluiu para óbito, representando 7,31%. Foram utilizados os 25 critérios padronizados de pontuações da OMS, possibilitando determinar as condições mínimas para caracterizar NMM. Salienta-se que uma paciente pôde pontuar ao mesmo tempo em mais de um critério clínico, laboratorial ou manejo. Foram contabilizadas 98 pontuações, segundo os critérios da OMS, sendo 40 (40,8%) clínicos, 34 (34,69%) laboratoriais e 24 (24,48%) invasivos. Os critérios com maior incidência foram frequência respiratória >40 ou <6 incursões por minuto, com 9 (9,18%); choque, 10 (10,2%); convulsão não controlada, 10 (10,2%); sat 02 <90% por 60 minutos ou mais, 14 (14,28%); e uso de drogas vasoativas, 9 (9,18%). Conclusão: A análise dos dados obtidos na presente casuística permitiu identificar os casos de NMM ocorridos no período do estudo, os critérios clínicos foram os mais encontrados, sendo que a sobreposição de mais de três critérios esteve relacionada ao óbito. As complicações obstétricas mais prevalentes foram as hipertensivas, seguidas pelas doenças hemorrágicas e infecciosas. A relação entre NMM e óbitos foi de 9,667 NMM para cada óbito.
Downloads
Referências
Morse ML, Fonseca SC, Gottgtroy CL, Waldmann CS, Gueller E. Morbidade materna grave e near misses em hospital de referência regional. Rev Bras Epidemiol. 2011;14(2):310-22.
Souza JPD, Cecatti JG, Parpinelli MA. Fatores associados à gravidade da morbidade materna na caracterização do near miss. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005;27(4):197-203. https://doi.org/10.1590/S0100-72032005000400006
Say L, Souza JP, Pattinson RC; WHO working group on Maternal Mortality and Morbidity classifications. Maternal near miss--towards a standard tool for monitoring quality of maternal health care. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2009;23(3):287-96. https://doi.org/10.1016/j.bpobgyn.2009.01.007
World Health Organization. The world health report 2005: make every mother and child count. Geneva: WHO; 2005.
Tonin KA, Oliveira JLC, Fernandes LM, Sanches MM. Internação em unidade de terapia intensiva por causas obstétricas: estudo em hospital de ensino público. Rev Enferm UFSM. 2013;3(3):518-27. https://doi.org/10.5902/217976929157
Mourão LF, Mendes IC, Marques ADB, Cestari VRF, Braga RMBB. Internações em UTI por causas obstétricas. Enferm Glob. 2019;18(53):304-45. https://dx.doi.org/10.6018/eglobal.18.1.302341
Souza MAC, Souza THSC, Gonçalves AKS. Fatores determinantes do near miss materno em uma unidade de terapia intensiva obstétrica. Rev Bras Ginecol Obstet. 2015;37(11):498-504. https://doi.org/10.1590/SO100-720320150005286
Assarag B, Dujardin B, Delamou A, Meski FZ, Brouwere V. Determinants of maternal near-miss in Morocco: too late, too far, too sloppy? PLoS One. 2015;10(1):e0116675. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0116675
Dias MAB, Domingues RMSM, Schilithz AOC, Nakamura-Pereira M, Diniz CSG, Brum IR, et al. Incidência do near miss materno no parto e pós-parto hospitalar: dados da pesquisa Nascer no Brasil. Cad Saúde Pública. 2014;30(Supl):S169-81. http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00154213
Reis LCN, Santos Junior JA, Valadares Neto JD, Santana LCLR. Clinical, epidemiological and obstetrical aspects of maternal near miss in a reference maternity hospital in Northeast Brazil. Res Soc Dev. 2022;11(5):e21811528078. https://doi.org/10.33448/rsd-v11i5.28078
Oliveira LC, Costa AAR. Maternal near miss in the intensive care unit: clinical and epidemiological aspects. Rev Bras Ter Intensiva. 2015;27(3):2020-7. https://doi.org/10.5935/0103-507X.20150033
Coêlho MAL, Katz L, Coutinho I, Hofmann A, Miranda L, Amorim M. Perfil de mulheres admitidas em uma UTI obstétrica por causas não obstétricas. Rev Assoc Med Bras. 2012;58(2):160-7. https://doi.org/10.1590/S0104-42302012000200011
Amaral E, Sousa JP, Surita F, Luz A, Souza MH, Cecatti JG, et al. A population-based surveillance study on severe acute maternal morbidity (near-miss) and adverse perinatal outcomes in Campinas, Brazil: the Vigimoma Project. BMC Pregnancy Childbirth. 2011;11:9. https://doi.org/10.1186/1471-2393-11-9
Geller SE, Koch AR, Garland CE, MacDonald EJ, Storey F, Lawton B. A global view of severe maternal morbidity: moving beyond maternal mortality. Reprod Health. 2018;15(Suppl 1):98. https://doi.org/10.1186/s12978-018-0527-2
Arantes BG, Arantes KM, Freitas EAM, Limongi JE. Fatores de risco associados ao near miss materno em um hospital universitário: estudo de caso controle. Saúde (Santa Maria). 2021;47(1):e64883. https://doi.org/10.5902/2236583464883
Braga JC, Cruz MB, Ribeiro JL, Carmo ECQ, Hirota VB, Muñoz JWP, et al. Gravidez na adolescência como fator de risco para pré-eclâmpsia: revisão sistemática da literatura. Revista Multidisciplinar da Saúde. 2021;3(2):37-49.